Capítulo 1

New Bark Town, uma pequena cidade encontrada no sudeste de Johto, lar do laboratório do Professor Elm. É também o lar de muitos dos jovens que iniciam suas jornadas Pokémon, deixando a calmaria da cidade para explorar a região. Aqui é o começo da maioria das histórias sobre treinadores determinados a seguir seus sonhos e conquistar seus objetivos.

 Mas não é bem aqui que a nossa história começa.

 Nossa história começa em Blackthorn, lar do oitavo ginásio de Johto. Podemos encontrar lá o Dragon’s Den, e ao norte, o Ice Path. Também é onde podemos encontrar nosso mais novo herói de Johto. Então, vamos para dentro do ginásio.

 A líder Clair havia acabado de derrotar mais um treinador Pokémon que estava em busca de sua oitava insígnia. Ela nunca pegava leve com aqueles jovens, tinha que fazê-los darem tudo de si, para só então conseguirem a almejada Rising Badge e o passaporte para a Liga Pokémon. Além disso, tinha que dar um bom exemplo ao seu aprendiz.

 - Eu ainda vou te derrotar, Clair!

 Aquele treinador estava completamente frustrado por ter perdido, tal como a maioria dos perdedores. Outros, porém, só davam as caras novamente após treinarem seus Pokémons adequadamente.  A minoria não entrava correndo no ginásio assim que chegavam à cidade, não eram dominados pela ansiedade de conseguir a oitava insígnia. Estes treinavam ainda mais antes da batalha. E conseguiam.

 A moça de cabelos azulados desviou sua atenção para o aprendiz. Sentado num canto estava um rapaz de cabelos negros cobertos por um boné virado para trás, uma mecha saindo pela pequena abertura. Usava uma jaqueta vermelha e uma bermuda preta, e segurava um caderninho de anotações.

 - Conseguiu acompanhar? – Perguntou a líder.

 - Tudo anotado – respondeu o jovem. – Clair... Você é muito rude com o pessoal.

 Clair lançou-lhe um olhar ameaçador. Com aquela Dragon Master não se brinca, e o garoto sabia disso. Contudo, eles já conviviam há algum tempo, e conheciam bem o jeito um do outro. Clair sabia que seu aprendiz só pensava depois de falar às vezes, por isso não ficou tão brava.

 - Esses garotos vêm até aqui tão animados, se achando superiores por terem sete insígnias... Mas com certeza não estão no nível da Liga. Só estarão quando puderem me derrotar. Não posso facilitar para eles. Eles partirão para o Indigo Plateau sem estarem prontos para batalhar contra aqueles quatro, muito menos contra Lance. Entende isso?

 O rapaz assentiu.

 - Então você será rude comigo quando eu vier para desafiá-la?

 Clair suspirou. Já estava tão acostumada com a presença do garoto que quase se esquecera de seu aniversário, quando ele voltaria para New Bark e provavelmente só a encontraria novamente para a disputa pela Rising Badge.

 - Dez anos, certo? O tempo passou rápido demais...

 O aniversariante levantou-se em silêncio. Pensava o mesmo, e na noite seguinte quase ligara para a mãe dizendo que ficaria em Blackthorn por mais alguns meses. Mas sabia que se continuasse lá como um mero aprendiz não seria um treinador de verdade.

 - Venha, Nate. Tenho um presente para você.

 Ambos montaram no Gyarados de Clair para atravessar o rio que separava a cidade da caverna conhecida como Dragon’s Den. Rapidamente chegaram ao outro lado, adentraram o local e novamente precisaram do Pokémon para chegar à pequena casa no meio da caverna. Lá dentro, encontraram um senhor idoso esperando pelos dois com uma pequena caixa em mãos.

 Clair fez uma reverência.

 - Bom dia, senhor.

 Nate, por outro lado, abriu um sorriso e acenou.

 - E aí, vovô!

 O olhar de Clair dizia claramente que ele devia ter um pouco mais de respeito com aquele “vovô”. Porém, o homem riu.

 - Deixe o menino, Clair. – Então virou-se para Nate. – Olá, meu jovem. Creio que esteja esperando por seu presente.

 Nate olhou para caixinha e depois para o velho. Ele assentiu com um sorriso, antes de estender o presente para o rapaz.

 - Feliz aniversário.

 - Eu não acredito que vocês compraram um Pokégear! Esse troço custa uma fortuna, é tão bacana...

 - Nate – chamou-o Clair. – Abra o presente.

 Ao abrir a caixa, o rapaz viu que o que tinha lá dentro não era nem de perto parecido com seu desejado aparelho tecnológico; apenas uma pena prateada. Nate tirou o objeto da caixa na esperança de que o verdadeiro presente estivesse escondido, mas aparentemente ele ganhara mesmo uma simples pena.

 - Nossa. Isso que eu chamo de surpresa.

 Clair aproximou-se do garoto e depositou a mão em seu ombro.

 - Sei que não esperava por isso...

 - Não, imagina. Sempre quis uma... Pena. Pequena. Inútil.

 - Pode ser pequena, mas com certeza não é inútil. Essa é a Silver Wing, dizem que com isso você pode encontrar o Pokémon Lendário Lugia.

 - É isso que eu chamo de sorte. Nem comecei minha jornada e já posso ter um Lugia.

 - Claro que vai precisar de uma pokébola adequada e treinar seus futuros Pokémons direito. Estamos falando do Guardião dos Mares, e não de um mero Pidgey que encontramos por aí.

 - Entendi... – Nate guardou seu presente no bolso. – Desculpe o mau jeito, Elder. Obrigado pelo presente.

 - Não há de quê, jovem.

 O homem continuou ali enquanto Nate e Clair saíam do Dragon’s Den.

 Já era fim de tarde em Blackthorn. O sol brilhava em tons de laranja no horizonte, uma das visões preferidas de Nate. O jovem foi direto para a casa em que morava com Clair, era pequena, mas dava para os dois viverem bem. Sua mala estava pronta para voltar à New Bark no dia seguinte. Três anos sem ver a cidade natal... Sua mãe o visitou algumas vezes desde que o garoto se mudou, porém, ele mesmo não visitara a cidade em momento algum. Estava com saudades de sua mãe e de todos de New Bark, claro, embora ainda não gostasse da ideia de sair de Blackthorn. Aquela cidade lhe proporcionara muito conhecimento sobre os Pokémons. Sem contar que o rapaz realmente gostava e admirava Clair.

 Ele se sentou num banquinho do lado de fora da casa. Logo Clair voltou para casa e ficou ali com seu aprendiz.

 - Feliz aniversário - disse ela. 

 - Obrigado. Vou sentir falta de viver aqui...

 - Sua casa é New Bark, Nate. Teria de voltar para lá algum dia. E três anos é muito tempo, não acha?

 Nate ficou quieto, ainda olhando para o céu.

 - Quando for enfrentar os outros líderes - continuou - lembre-se que eles sabem quem você é. Sabem que você é meu aprendiz. Por isso, não me decepcione e nem queime a minha imagem. Detone todos eles e mostre que aprendeu algo comigo.

 - Minha nossa, Clair. É você mesmo quem está dizendo isso?

 Ela o olhou com uma expressão confusa.

 - Só que é meio estranho ouvir você falando para "detonar" os líderes de ginásio. Pensei que diria para não ser precipitado, para pensar em boas estratégias antes de mais nada, e blá blá blá...

 Clair soltou um suspiro e abriu um singelo sorriso. Nate abriu um sorriso maior ainda. Aina olhando para cima, viu o sol desaparecendo de vista e a lua tomando conta do céu noturno. Os Pokémons que voavam por ali logo voltavam aos seus ninhos para descansarem. A empolgação tomou conta de si, e por um instante esqueceu das saudades que sentiria daquele lugar e de New Bark quando partisse em uma jornada. No dia seguinte daria um passo em direção ao seu sonho de se tornar o melhor treinador Pokémon de todos os tempos, e apenas isso ainda lhe parecia surreal. 

 - Mal posso esperar para conquistar Johto!

 Clair sorriu. Lhe desejou boa noite e adentrou a casa minutos antes do rapaz fazer o mesmo.

 O dia amanhecera lindo. Poucas nuvens no céu e um clima aconchegante, os raios de sol iluminando toda a cidade e lhe dando um aspecto mais vivo. Os moradores de Blackthorn se reuniam em volta da ponte que ligava a cidade à Rota 45, por onde Nate iria para chegar à New Bark Town. Até mesmo os visitantes paravam para ver o que estava acontecendo ao ver toda aquela gente em um só lugar, entre elas a líder de ginásio Clair. 

 O rapaz ajeitou o boné preto e amarelo na cabeça e segurou a alça de sua mochila. Encarava a moça de cabelos azuis, esperando pelo menos alguma instrução de sua mentora.

 - Última recomendação?

 - Não me desaponte - respondeu ela.

  Nate sorriu.

 - Também sentirei sua falta, cabeça dura.

 Ela provavelmente não gostaria de ser chamada assim por qualquer outra pessoa. Entretanto, aquele era Nate Silver, seu protegido que batera em sua porta aos sete anos de idade, implorando para que ela o ensinasse tudo o que soubesse sobre Pokémons. O menino era acompanhado de sua progenitora, uma mulher que carregava uma feição triste ao ver seu menino querendo aquilo, sabendo que eles se separariam.

 - Lembro-me de quando você chegou aqui. Um garotinho de sete anos com uma determinação de um adulto. Agora você está com dez anos, e é como se tivesse voltado aos sete.

 O rapaz ficou emburrado por um breve segundo antes de começar a rir. A mulher aproximou-se para abraçá-lo.

 - Estarei esperando seu desafio, garoto. Não pegarei leve, então só venha até meu ginásio quando estiver realmente pronto.

 - Sei muito bem disso. 

 Eles se afastaram.

 - Boa sorte - desejou-lhe Clair.

 - Até algum dia.

 Então Nate partiu, sendo observado por uma orgulhosa líder, como se ela estivesse vendo seu menino se tornar um homem.