sábado, 30 de novembro de 2013

Capítulo 6


   Lembrete do dia: nunca entrar na Dark Cave sem pilhas reservas. Lyra estava morrendo de medo, ainda mais quando soube que as pilhas de sua lanterna estavam acabando.
   Ok, se controle... Não dê um motivo para o Nate te zoar depois, pensava a garota. Ainda assim, caminhar pela escuridão da caverna com o caminho iluminado por apenas um fraco feixe de luz não a tranquilizava muito. Ela olhava para Leon no ombro de seu treinador e rezava para que chamas saíssem de suas manchas nas costas, ajudando na iluminação. Mas isso não aconteceu. Talvez ele só aceitasse receber ordens de seu treinador... Talvez a garota não soubesse fazer telepatia.
   Lyra engoliu em seco. Segurava a lanterna com força, torcendo para que a luz não se apagasse. Temia se perder de Nate, no escuro, pois pelo menos ele não tinha medo de escuro. Podia acalmá-la e deixar as brincadeiras pra depois. Podia lembrá-la a cada cinco minutos que não havia Gastlys naquele lugar.
   - Lyra? - Ele a chamou, quase matando a garota de susto. - Você está bem?
   - Sim, não se preocupe.
   Ele continuou a encarando, até que finalmente pareceu perceber o que havia de errado.
   - Ah! É aquilo, não é?
   A jovem desviou o olhar, voltando a caminhar em direção à saída. Nate foi atrás dela, rindo.
   - Não acredito nisso! - Disse ele. - Você ainda tem medo disso? Não tem Gastlys aqui, relaxa!
   - Fique quieto!
   Ele não obedeceu; continuou a gargalhar, se divertindo com o medo de Lyra.
   - Se você não parar agora, eu libero a Starx e peço pra ela ficar no seu ombro até sairmos daqui! - Lyra o ameaçou.
   - Ei, isso é sacanagem - disse o rapaz. - Mas pode mandar ver, o Leon derrota esse inseto! Certo, Leon?
   O Cyndaquil grunhiu, algo que na língua dos Pokémons devia significar mais ou menos "Eu vou acabar com ela!". Leon... Desde que o Pokémon saiu do controle, Lyra ficou preocupada com ele. E temia que seu comportamento também influenciasse Nate. A garota não conseguia parar de pensar que seu amigo podia apresentar transtornos de personalidade. Embora ela tenha convivido com ele por anos, nunca tinha notado algo assim. Ele nunca quis bater em um Pokémon. Nate sempre os adorou.
   - Lyra? Nave-mãe chamando Lyra, responda!
   Só então a garota percebeu que ficara fora de ar, perdida nos pensamentos. Piscou, voltando sua atenção ao caminho a sua frente. Estavam chegando na metade da caverna, e Lyra quase podia avistar a saída. Estava tudo bem. Eles logo sairiam da Dark Cave e não entrariam em outra caverna tão cedo.
   O único problema era: a luz da lanterna havia apagado.
   - Essa não... - A garota começou a bater desesperadamente no objeto, como se aquilo fizesse as pilhas voltarem a funcionar. - A primeira coisa que vamos fazer em Violet é comprar pilhas novas. E muitas reservas! - Ela olhou ao seu redor, mas a escuridão a impedia de ver qualquer coisa. - Nate...? Nate, cadê você?!
   Sem dizer nada, o rapaz tocou o ombro da amiga, fazendo-a pular e gritar de susto.
   - Não faz isso!
   Nate caiu na gargalhada, mas sua risada logo foi substituída por um grito.
   - Ai! Poxa, também não precisa me morder...
   - Eu não te mordi.
   - Não, imagina. Caraca, não sabia que tinha dentes tão afiados!
   - Nate, eu nem encostei em você!
   Ele ficou em silêncio, até que, de repente, Lyra ouviu um barulho como se alguém tivesse caído ao seu lado. O Cyndaquil a pegou de surpresa pulando em seu colo. A jovem se abaixou, apalpando o solo ao seu redor até sentir o corpo de Nate caído ao seu lado.
   Seja lá que tipo de criatura o mordera, era venenosa. E provavelmente estava atrás de Lyra agora.
   Ela agarrou Leon com um braço e puxou Nate com o outro, o levando em direção à saída. Várias vezes afundava seu pé na água, porém logo se desviava e tentava identificar onde havia água e onde estava seco. Não era muito fácil sem sua lanterna. E para piorar a situação, ouvia o som do bater de asas não muito distante dali.
   De repente, uma criatura voou por cima de sua cabeça e parou diante de Lyra, e mesmo assim a garota teve dificuldades em identificá-lo. Era um morcego azul, e enquanto batia as asas Lyra pôde ver que elas eram roxas na parte de baixo. Podia parecer inofensivo pelo tamanho, mas aquele pequeno Zubat conseguira envenenar Nate, e o fato de não ter olhos não o deixava menos assustador.
 

   Zubat mostrou as presas. Não dava para correr com Leon em seu colo e um rapaz desacordado ao seu lado. Por precaução, manteve seus Pokémons nas Pokébolas, evitando que se perdessem na Dark Cave. O Pokémon avançou, e Lyra fechou os olhos, esperando sua mordida venenosa. Contudo, não sentiu nada. Quando abriu os olhos, um Geodude socava o Zubat, o jogando no chão. A garota sorriu, aliviada.
   - Muito obrigada, Geodude! 
   Seu salvador virou-se para ela e sorriu. Em seguida, segurou Nate e levou o garoto para a saída da caverna, sendo seguida por Lyra.
   Entretanto, o Zubat continuava consciente. Ele se ergueu e bateu as asas, indo na direção do pequeno grupo para se vingar de Geodude. Por sorte, antes que ele pudesse atacar, outro Pokémon surgiu, saltando da água e o deixando novamente no chão. O morcego finalmente se deu por vencido e bateu em retirada.
   - Isso! - Comemorou Lyra.
   O segundo Pokémon a salvá-la era um peixe aparentemente inofensivo, mas que se mostrou muito corajoso quando viu que alguém precisava de ajuda, mesmo que isso significasse sair da água e ficar se debatendo no chão. Lyra não sabia onde deixá-lo. Não sabia onde estava a água, e não tinha tempo para procurar. Assim, jogou uma Pokébola vazia; a esfera balançou e piscou por alguns segundos e finalmente parou. A garota a guardou e voltou a seguir o Geodude até a saída.


   No lado de fora da Dark Cave, na Rota 31, Geodude deitou o rapaz sob a sombra de uma árvore. Ele estava suando. Sua amiga tirou sua jaqueta, furada no ombro pelas presas do Zubat selvagem.
   - Como eu pude esquecer de trazer antídoto? - Murmurou, frustrada consigo mesma.
   - Quer ajuda?
   Ao lado deles estava uma garota linda. Era loira, usava um vestido e um colete por cima, tinha fones de ouvido, olhos encantadores e um sorriso brilhante. Podia ser garota-propaganda de qualquer comercial de pasta de dentes. Com aquela beleza, Lyra chegou a agradecer por Nate estar inconsciente.

   - E então? Quer ajuda? - Repetiu.
   - Sim, por favor. Meu amigo está envenenado...
   A garota se ajoelhou ao lado de Nate e abriu a bolsa, tirando de lá um pequeno frasco, o antídoto. Pingou um pouco na boca do rapaz adoentado e se levantou, guardando o antídoto e, em seguida, estendendo a mão para Lyra.
   - É um prazer, meu nome é Sarah. Sarah Miller.  
   A jovem de New Bark apertou sua mão.
   - Lyra. Lyra Waterflowers - apresentou-se.
   - O que aconteceu com seu amigo? - Indagou Sarah.
   - Um pequeno acidente na Dark Cave - respondeu Lyra. - Foi mordido por um Zubat.
   - Oh! Que acontecimento trágico! - A loira fez drama. - Mas agora ele ficará bem.
   Sarah beijou a testa do rapaz, o que, por algum motivo, fez Lyra se sentir estranha. Estaria com ciúmes? Não, impossível. Nate era seu amigo, nada mais do que isso.
   - SARAH!!!
   A loira suspirou, se virando para trás. A garota de chapéu seguiu seu olhar. Um garoto corria na direção delas. Era pálido com olhos vermelhos, e seu cabelo negro se destacava devido à cor da pele. 


   - Pare de gritar, Kyle!
   - Vai te catar, Sarah, você não é minha mãe! - Gritou o rapaz, Kyle.
   Ele se aproximou e fitou o rapaz inconsciente por longos segundos, então mostrou uma expressão de nojo. 
   - Nate Silver...
   - Vocês se conhecem? - Perguntou Lyra.
   - Infelizmente, sim. É um garoto mimado de Blackthorn. - Kyle pegou seu boné. - Vivia dizendo que ia me derrotar... Que panaca. 
   Ele jogou o boné de Nate no chão brutalmente. Quando Lyra se levantou para confrontá-lo, Nate acordou, olhando para Lyra e, em seguida, para Sarah. Ele sorriu e a loira retribuiu com seu sorriso brilhante. Lyra se sentiu péssima... Teve a terrível impressão de que, se o garoto não tivesse notado Kyle ao seu lado, eles continuariam trocando olhares por algum tempo.
   - Eca... Acordei com uma visão linda, e já tenho que olhar esse troço feio. Que droga Kyle, olhar pra sua cara é pior do que levar uma mordida! Qual é o seu problema?
   - Vai te catar. - Ele finalmente pareceu notar Lyra. - Você tá viajando com ele?
   - Estou - respondeu a garota, de muita má vontade.
   - Haha! Não vai aguentar por muito tempo! Esse é o cara mais insuportável que já existiu!
   Nate estava prestes a retrucar quando notou algo ao lado de seu desafeto.
   - Que Geodude é esse?
   Geodude! Lyra pensou que ele já tinha voltado para a Dark Cave, mas ele estava ao seu lado o tempo todo. Agora encarava Kyle com antipatia e desgosto, não indo com a cara do rapaz.
   - Ele nos salvou - disse Lyra.
   Ela contou o que aconteceu enquanto o jovem treinador estava desacordado. O Geodude pareceu envergonhado, enquanto o rapaz o encarava com admiração. Lyra contou sobre a aparição do Magikarp que espantou o Zubat e que ela o capturara antes de saírem da caverna.
   - Um Magikarp? Tsc, que mal gosto... - Disse Kyle.
   - Tá de sacanagem?! Um Magikarp! - Maravilhou-se Nate. - Depois ele evolui para um Gyarados! Um GYARADOS!!! E um Geodude! Ele evolui pra um Graveler, e fica com quatro braços, cara... Que time de sorte, Lyra!
   - Valeu... Mas eu não capturei o Geodude.
   O rapaz arqueou as sobrancelhas. O Pokémon do tipo Rock/ Ground sorria para ele, se aproximou e estendeu uma de suas mãos brutas.
   - Ei, cara... Você vai esmagar minha mão - brincou o rapaz, tirando uma cápsula do bolso de sua mochila. - Mas eu posso capturar você, se quiser.
   O Geodude ergueu o braço, exibindo seus músculos e grunhindo como se comemorasse sua vitória numa batalha. Nate tocou sua Pokébola na cabeça do Pokémon, que não hesitou nem um pouco; logo era o terceiro Pokémon do time do rapaz, mais um companheiro para ajudá-lo no ginásio de Violet e em todas as outras batalhas que teria pela frente.
   - Patético... Um treinador de verdade batalha com um Pokémon selvagem antes de capturá-lo! - Exclamou Kyle.
   - Ah, cale a boca - repreendeu-o Sarah. - Parabéns, Nate! Espero que você tenha cada vez mais sorte e um time poderoso!
   Ela o beijou na bochecha. Kyle revirou os olhos e se afastou deles, continuando o caminho em direção à Dark Cave, como se quisesse passar pela mesma experiência que seu inimigo - e quem sabe capturar um Geodude mais forte do que o dele.
   - Nossa, como você consegue viajar com um cara tão chato? - Indagou Nate.
   - Sabe... Ele pode ter todos os defeitos do mundo, mas é alguém muito importante pra mim - respondeu.
   Ela se despediu mais uma vez dos dois e seguiu Kyle. Quando eles se afastaram, o garoto pegou seu boné e comentou:
   - Ei Lyra, olha que legal: você foi a primeira pessoa que eu vi quando acordei! Legal, né?
   Ele vestiu sua jaqueta e colocou o boné na cabeça, se levantou e começou a caminhar pela Rota 31. "Acordei com uma visão linda", dissera Nate. Será que... Não, claro que não. Era óbvio que estava falando da Sarah.
   Lyra se pôs de pé e seguiu o amigo, avoada com seus inúmeros pensamentos que surgiram com aquela frase.

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