sábado, 7 de dezembro de 2013

Capítulo 7


   Violet City estava logo à frente. Isso devia ser uma ótima notícia.
   Eles conseguiram despistar os Rockets e chegar até lá. Estavam cansados e machucados, mas eles menos estavam livres. Agora era só entrar na cidade e esperar a chegada daquele rapaz, certo? Podiam se hospedar no Centro Pokémon e descansar, certo?
   Errado; os Rockets já estavam ali.
   Dois deles guardavam a saída para a Rota 32, e provavelmente outra dupla cercava a saída para a Rota 36. Outros soldados estavam escondidos pela cidade. O ruivo tinha certeza de que alguns se escondiam na Sprout Tower. Aquilo seria um grande problema... Se o primo da garota de cabelos azuis realmente possuísse aquele item, os Rockets com certeza o capturariam, assim como aqueles dois jovens que causaram tantos problemas na base da facção.
   - Temos duas opções - disse o ruivo. - Ou vamos lá para ser pegos ou ficamos aqui e deixamos seu primo ser pego.
   - Não! Deve ter outra saída!
   O rapaz olhou de relance para a amiga, novamente voltando a atenção para os soldados do Team Rocket em seguida. Ele tinha que pensar. Não aguentaria ver aquela garota sofrendo se o pior acontecesse, principalmente sabendo que ele podia ter feito algo.
   - Tudo bem, acho que temos uma terceira opção.
   Ela sorriu, agradecida. Era uma ideia maluca... Mas tinha que dar certo.

   - VIOLET!! HORA DA MINHA PRIMEIRA INSÍGNIA!!
   - Por favor, Nate, cale a boca...
   Finalmente, Violet City. Lar do ginásio de Violet, liderado pelo líder Falkner. Muitos treinadores iniciantes consideravam aquela cidade o verdadeiro ponto de partida de suas jornadas, especialmente por conter o ginásio. Ao norte erguia-se a Sprout Tower. Muitos Pidgeys e Spearows sobrevoavam o ginásio, sendo recebidos por um homem de pé no topo da construção.
   - Aquele é o Falkner? - Perguntou Lyra.
   - É. Ele é meu padrinho.
   - Seu... Padrinho?
   - É, de consideração - explicou o rapaz. - Eu o conheci quando os líderes de ginásio se reuniram em Blackthorn.
   - Então você conhece todos os líderes de Johto?!
   Nate deu uma risada sem graça.
   - Conheço... 
   Uau. Ser aprendiz de Clair realmente podia deixá-lo famoso, de alguma forma. Lyra ficou imaginando se o amigo também não conhecia Lance, o primo de Clair e campeão. Imaginou se ele não conhecia toda a Elite 4. Contudo, percebendo seu desconforto em falar que conhecia os líderes de ginásio, a garota resolveu não perguntar nada.
   - Então? Que Pokémons vai usar nessa batalha? - Ela perguntou.
   - Leon, com certeza! - Nate respondeu de imediato. O Cyndaquil em seu ombro se animou. - Eu adoraria comandar Ícaro numa batalha, mas... Acho melhor usar o Geodude.
   O rapaz liberou seu mais novo Pokémon. O corajoso Geodude exibiu seus músculos de pedra e sorriu, já sabendo que teria sua primeira batalha ao lado de seu treinador em breve. Leon desceu do ombro do dono para cumprimentar seu novo companheiro de time.
   - E aí, Lyra? Como vai aquele Magikarp?
   - Quando sairmos de Violet e pararmos perto de um lago, eu vou treiná-lo. - Ela baixou o olhar para seu Chikorita. - Posso contar com sua ajuda?
   O Pokémon Folha grunhiu, confirmando que iria ajudar no treino.
   - Hã... Já pensou em dar um apelido pra ele? - Indagou Nate.
   - Um apelido?
   - Sim. Assim ele seria um Pokémon único. Não seria apenas mais um Chikorita, seria O Chikorita. Entende? É por isso que eu sempre dou um apelido para os meus Pokémons. 
   - Então qual é o apelido do Geodude?
   - Bem... - Ele olhou para o Pokémon. - Tenho que saber seu sexo primeiro, carinha! 
   O Geodude apenas grunhiu, demonstrando que não tinha pressa alguma, e voltou a atenção ao seu papo com Leon.
   - E então? Pode ser um nome simples, tipo Leaf! – Sugeriu o garoto.
   - Leaf é péssimo – riu Lyra. – Vou pensar em algo.
   O jovem deu de ombros. Agora só conseguia pensar em sua primeira batalha de ginásio. Já imaginava a Zephyr Badge em suas mãos, já imaginava o prazer de vencer Falkner. E também não deixava de ficar ansioso para reencontrá-lo.

   Além do ginásio e da Sprout Tower, a cidade também abrigava a Pokémon School, um Centro Pokémon e um PokéMart. Os jovens esperavam ver vários treinadores iniciantes ali, aguardando por seu desafio de ginásio, mas a movimentação estava estranha. Poucas pessoas andavam por ali e de vez em quando alguns homens caminhavam lentamente pela área, olhando ao redor como se procurassem por algo. Um deles foi em direção à dupla de treinadores.
   - Posso ajudá-los?
   - Não, não precisa – respondeu Lyra. – Só vamos dar uma passada no ginásio.
   Nate olhou para a amiga e percebeu que ela estava meio desconfortável enquanto falava com o cidadão. Por quê? Era só um cara oferecendo ajuda.
   - Oras, eu faço questão de lhes apresentar os melhores lugares de Violet City – ofereceu-se o homem.
   - Obrigada, mas realmente...
   - Valeu moço, adoraríamos conhecer Violet melhor.
   O homem sorriu e se virou, iniciando o tour pela cidade. Lyra pisou com força no pé do amigo.
   - Ai! Mas que droga, pra quê quebrar meu pé?!
   - Eu estou com um péssimo pressentimento. Como você pode confiar em qualquer estranho? Sua mãe nunca te ensinou a não falar com estranhos?
   - Se eu não falar com estranhos, eu não vou conhecer ninguém! Vamos lá. É só um pressentimento, não é como se você pudesse prever o futuro.
   Lyra suspirou e, ao lado de Nate, seguiu o estranho homem, não deixando de pensar no pior.
   O cidadão apresentou a pequena escola. Ele explicou que lá os alunos aprendiam sobre os movimentos dos Pokémons, as doenças de status, os tipos, as vantagens e desvantagens, tudo o que eles precisavam saber antes de começar a jornada.  Nate sorriu ao ver aquelas crianças aprendendo tudo o que Clair o ensinara.
   A próxima parada era a Sprout Tower. O pequeno grupo atravessou a ponte ao norte de Violet para chegar à torre de três andares. A mesma era cercada pelo verde e pela água, ela se dedicava à bela natureza dos Bellsprouts e era onde se encontravam vários sábios que treinavam Bellsprouts, tornando-os Pokémons gentis.
   Mas não era bem isso o que parecia.
   Por dentro, o lugar tinha um cheiro horrível de mofo. Estava terrivelmente escuro. O silêncio era tanto que deixava os jovens desconfortáveis, aparentemente não havia nenhum treinador ou Pokémon selvagem por ali.
   - Que estranho – comentou Nate.
   - Podemos sair daqui? – Murmurou Lyra. – Esse lugar é meio incômodo.
   O rapaz estava prestes a pedir ao seu guia que fossem a outro lugar quando alguém o agarrou por trás, cobrindo sua boca com a mão. Ele olhou para o lado. Lyra também havia sido pega. Aquela foi a última coisa que ele viu antes de desmaiar.

    Ah, como era bom sentir o ar fresco batendo suavemente em seu rosto, na companhia de Pokémons de seu tipo favorito, sem ter que se preocupar com problemas ou o estresse do trabalho! O topo do ginásio era o lugar favorito de Falkner, sem dúvidas. Nenhum treinador havia o desafiado para uma batalha naquele dia, algo um tanto raro, e que adorava quando acontecia. Adorava ficar em paz, passar um tempo consigo mesmo... E com os vários Pidgeys e Spearows também, é claro.
   Por algum motivo, a cidade estava quieta. Algumas crianças aprendiam sobre Pokémon na Pokémon School, mas poucas pessoas passavam pelas ruas de Violet, apenas alguns homens que andavam por ali de vez em quando. O líder de ginásio não podia deixar de estranhar isso.
   Enfim ele avistou um rapaz de boné preto e amarelo. Era ele! Nate Silver, seu afilhado de consideração. Ele estava acompanhado de uma garota com um grande chapéu branco na cabeça e um homem de sobretudo preto. O adulto parecia guiar os jovens, o que aumentava as suspeitas de Falkner. Não havia guias em Violet City.
   Eles iam em direção a Sprout Tower. A torre estava fechada para visitas no momento...  Falkner desceu e saiu do ginásio, disposto a descobrir o que aquele cara queria com seu afilhado e a garota.

   - Lyra...?
   Ao seu lado, Lyra parecia inconsciente. Seu chapelão jazia jogado no chão e sua cabeça estava inclinada para frente. Suas mãos estavam amarradas na cadeira. Nate olhou para baixo e para trás; ele se encontrava na mesma situação.
   Mas por que estavam ali? Ou melhor, onde eles estavam? Ainda na Sprout Tower ou em algum outro lugar? A dupla era iluminada uma luz amarelada que o livrava da escuridão, e seus Pokémons não estavam ali. Nate só podia rezar para que suas Pokébolas e todos os outros itens ainda estivessem com ele.
   - Bom dia, bela adormecida.
   Diante de Nate estava um homem vestindo um paletó negro sobre uma camisa com estampa de zebra, um par de óculos e carregava uma arma. Seu cabelo era negro e penteados de maneira estilosa, em seu rosto estava estampado um sorriso torto. Em um de seus olhos havia uma cicatriz feia. Havia mais dois homens ali, um de cada lado do homem com a arma, ambos usavam boinas negras e uniformes da mesma cor com um R vermelho estampado na blusa.

   - Quem é você? – Indagou Nate. – Onde estamos? Por que estamos aqui? O que você fez com a minha amiga e os nossos Pokémons?!
   - Opa, opa, opa! Tenha calma, rapaz. Uma pergunta de cada vez! – Exclamou o cara armado. – Pode me chamar de Spencer, um dos Executivos Rockets. Vocês continuam na Sprout Tower. A garota só resolveu dormir mais do que você, e seus Pokémons... Eles não estão numa situação muito conveniente – ele respondeu tudo bem rápido. – Agora! A pergunta do dia! Vocês estão aqui porque... – Ele deu uma pausa. – Opa! Não posso responder isso agora, mas quando eu puder, será a pergunta do dia! Ou da tarde! Ou da noite!
   - Cara, você é muito retardado.
   Spencer franziu o cenho.
   - Respeite os mais velhos, moleque. Principalmente aqueles que batalharam bravamente na guerra!
   O tal militar começou a relatar fatos incríveis da guerra, mas Nate pouco se importava. Estava mais preocupado com sua amiga e seus Pokémons.
   - Que se dane! – O rapaz gritou, cansado de ouvir aquele cara se vangloriando. – Nos solte agora e liberte nossos Pokémons!
   Spencer o encarou por um momento antes de colocar encostar a arma em sua testa.
   - Eu não gosto de moleques mal educados.
   Ele pôs o dedo no gatilho.
   Um Growlithe abocanhou seu braço. Spencer gritou de dor e virou a arma, atirando contra a parede. Os outros soldados liberaram Golbats, um deles avançou contra o Growlithe enquanto o outro procurava outros possíveis invasores.
   O Pokémon de fogo nocauteou seu oponente em pouco tempo, partindo pra cima do Executivo logo em seguida. Ele mordeu sua mão, causando mais um grito do homem. Da escuridão surgiu um Meowth pronto para cravar suas garras nas costas do Rocket. Spencer se afastou enquanto tentava tirar o Pokémon de suas costas. Growlithe correu até Nate para desatar o nó da corda com a boca. Logo em seguida, um Crobat caiu no chão.
   Após libertar o rapaz, Growlithe correu para socorrer Lyra. Nate a pegou no colo assim que a amiga foi solta.
   Um Totodile apareceu do nada e atacou os dois soldados restantes, novamente desaparecendo na escuridão com eles. Seja lá quem estivesse por trás daquilo, Nate estava agradecido.
   Minutos depois, surgiu um rapaz acompanhado do Totodile e do Meowth. Era ruivo, o cabelo batia mais ou menos na metade do pescoço, repicado nas pontas, olhos vermelhos. Usava uma jaqueta azul escura fechada com detalhes vermelhos e uma calça lilás. Ele carregava sua mochila e a bolsa de Lyra, e entregou-as à Nate.

   - Nate Silver?
   Nate assentiu.
   - Você por acaso possui algum item raro? Como o Clear Bell?
   - Na verdade, quem tem isso é ela – Nate apontou para Lyra. – Eu tenho a Silver Wing;
   O ruivo arqueou as sobrancelhas, surpreso. Em seguida, tirou do bolso uma caixinha de vidro com uma pequena almofada vermelha dentro, sobre a almofada estava uma pena colorida.
   - Eu sou, assim como você, um dos Guardiões das Asas, guardião da Rainbow Wing.
   Antes que Nate pudesse fazer qualquer pergunta sobre isso, viu seus Pokémons e os de Lyra correndo até eles. Leon pulou em seu ombro, Ícaro pousou em sua cabeça e o Geodude lhe deu um tapinha nas costas que quase o levou ao chão. O Chikorita e a Ledyba cercaram sua treinadora, preocupados, e só então Nate deu falta do Magikarp da amiga. A deitou no chão delicadamente e abriu sua bolsa a procura das Pokébolas. De uma delas saiu o peixe, e o rapaz tratou de retorná-lo à cápsula.
   - Quem é você e por que nos salvou?
   - Não temos muito tempo para apresentações. Precisamos dar o fora antes que os reforços deles cheguem – explicou o ruivo. – Quanto a sua outra pergunta... Nós explicamos depois.
   - “Nós” quem?!
   Ele abriu um meio sorriso.
   - É uma história engraçada. Você vai gostar, ou vai me socar. Mas o importante agora é fugirmos antes que Spencer volte acompanhado de outros soldados.
   Não demorou muito para isso acontecer. Enquanto os dois corriam em direção à saída, Spencer reapareceu, com um ferimento na mão e o paletó rasgado nas costas. Estava acompanhado de três soldados Rockets, cada um com um Golbat, enquanto Spencer tinha em mãos um Ultra Ball.
   - Olá, moleques mal criados.
   Nate ajeitou Lyra em suas costas e tanto seus Pokémons quanto os da garota se colocaram em posição de combate. Os do ruivo fizeram o mesmo. Mas antes que qualquer um pudesse atacar, um grande e bravio Pidgeot atacou os três soldados com um Wing Attack, um de cada vez. Por sua vez, Spencer foi atacado por um cara de cabelos azulados, que iniciou uma luta corpo-a-corpo com o Executivo.
   - Falkner!
   - Olá, Nate, como vai? Não muito bem, eu imagino – disse o líder de ginásio. – Fuja, garoto! Deixe ele comigo!
   Relutante, Nate saiu da torre ao lado do de olhos vermelhos.

   Ok, vamos parar por um minuto, pensou o rapaz. Por que a Cris está aqui?
   Assim que o viu, sua prima de cabelos e olhos azulados abriu um enorme sorriso. Lyra finalmente acordou e olhou ao seu redor, atordoada.
   - O... O que aconteceu? E o que a Cris está fazendo aqui?
   Nate lhe contou tudo o que acontecera na Sprout Tower enquanto ela estava inconsciente. Os quatro jovens descansavam sob a sombra de uma árvore em Violet, escondidos dos outros Rockets. Hesitavam em tentar sair da cidade pois poderiam ser pegos. Assim, a melhor alternativa era ficar escondidos até Falkner sair da torre com, eles esperavam, boas notícias.

   - PRIMO!!
   Cris se jogou em cima do rapaz assim que Lyra sentou-se no chão.
   - E aí prima, além de doida é sumida, né? Deu pra desaparecer agora?
   - Ah! Sobre isso... É uma longa história, eu acho. É bem engraçada!
   Nate olhou para o ruivo. “Você vai gostar, ou vai me socar”, ele dissera. Aquilo não o deixou muito ansioso para ouvir a história.
   - Parece que ainda não nos apresentamos – lembrou o ruivo. – Meu nome é Duke. Duke Skyfalls.
   - Duke? – Riu Nate. – Parece nome de cachorro.
   Lyra lançou-lhe um olhar sério, mas também parecia se segurar para não rir.
   - Foi o que eu disse quando o conheci! – Contou Cris.
   Os três riram do nome e da cara de poucos amigos de Duke. O ruivo estendeu a mão num sinal de “pare”.
   - Nate Silver e... – Ele olhou para Lyra, que se apresentou. – Lyra Waterflowers. Precisamos tratar de um assunto um tanto complicado.
   - Sim. – Cris deixou a brincadeira de lado para assumir uma feição séria. – Algo que envolve o mundo inteiro e esses artefatos que vocês carregam.
   Nate e Lyra ficaram quietos para prestar atenção na história. Duke suspirou e, antes de começar a contar, olhou para o céu e comentou:
   - A tempestade está chegando.

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