Violet City estava logo à frente. Isso devia ser uma ótima notícia.
Eles conseguiram despistar os Rockets e chegar até
lá. Estavam cansados e machucados, mas eles menos estavam livres. Agora era só
entrar na cidade e esperar a chegada daquele rapaz, certo? Podiam se hospedar
no Centro Pokémon e descansar, certo?
Errado; os Rockets já estavam ali.
Dois deles guardavam a saída para a Rota 32, e
provavelmente outra dupla cercava a saída para a Rota 36. Outros soldados
estavam escondidos pela cidade. O ruivo tinha certeza de que alguns se
escondiam na Sprout Tower. Aquilo seria um grande problema... Se o primo da
garota de cabelos azuis realmente possuísse aquele item, os Rockets com certeza o
capturariam, assim como aqueles dois jovens que causaram tantos problemas na
base da facção.
- Temos duas opções - disse o ruivo. - Ou vamos lá
para ser pegos ou ficamos aqui e deixamos seu primo ser pego.
- Não! Deve ter outra saída!
O rapaz olhou de relance para a amiga, novamente
voltando a atenção para os soldados do Team Rocket em seguida. Ele tinha que
pensar. Não aguentaria ver aquela garota sofrendo se o pior acontecesse,
principalmente sabendo que ele podia ter feito algo.
- Tudo bem, acho que temos uma terceira opção.
Ela sorriu, agradecida. Era uma ideia maluca... Mas
tinha que dar certo.
- VIOLET!! HORA DA MINHA PRIMEIRA INSÍGNIA!!
- Por favor, Nate, cale a boca...
Finalmente, Violet City. Lar do ginásio de Violet,
liderado pelo líder Falkner. Muitos treinadores iniciantes consideravam aquela
cidade o verdadeiro ponto de partida de suas jornadas, especialmente por conter
o ginásio. Ao norte erguia-se a Sprout Tower. Muitos Pidgeys e Spearows
sobrevoavam o ginásio, sendo recebidos por um homem de pé no topo da
construção.
- Aquele é o Falkner? - Perguntou Lyra.
- É. Ele é meu padrinho.
- Seu... Padrinho?
- É, de consideração - explicou o rapaz. - Eu o
conheci quando os líderes de ginásio se reuniram em Blackthorn.
- Então você conhece todos os líderes de Johto?!
Nate deu uma risada sem graça.
- Conheço...
Uau. Ser aprendiz de Clair realmente podia deixá-lo
famoso, de alguma forma. Lyra ficou imaginando se o amigo também não conhecia
Lance, o primo de Clair e campeão. Imaginou se ele não conhecia toda a Elite 4.
Contudo, percebendo seu desconforto em falar que conhecia os líderes de
ginásio, a garota resolveu não perguntar nada.
- Então? Que Pokémons vai usar nessa batalha? - Ela
perguntou.
- Leon, com certeza! - Nate respondeu de imediato. O
Cyndaquil em seu ombro se animou. - Eu adoraria comandar Ícaro numa batalha,
mas... Acho melhor usar o Geodude.
O rapaz liberou seu mais novo Pokémon. O corajoso
Geodude exibiu seus músculos de pedra e sorriu, já sabendo que teria sua
primeira batalha ao lado de seu treinador em breve. Leon desceu do ombro do
dono para cumprimentar seu novo companheiro de time.
- E aí, Lyra? Como vai aquele Magikarp?
- Quando sairmos de Violet e pararmos perto de um
lago, eu vou treiná-lo. - Ela baixou o olhar para seu Chikorita. - Posso contar
com sua ajuda?
O Pokémon Folha grunhiu, confirmando que iria ajudar
no treino.
- Hã... Já pensou em dar um apelido pra ele? -
Indagou Nate.
- Um apelido?
- Sim. Assim ele seria um Pokémon único. Não seria
apenas mais um Chikorita, seria O Chikorita. Entende? É por isso que eu sempre
dou um apelido para os meus Pokémons.
- Então qual é o apelido do Geodude?
- Bem... - Ele olhou para o Pokémon. - Tenho que
saber seu sexo primeiro, carinha!
O Geodude apenas grunhiu,
demonstrando que não tinha pressa alguma, e voltou a atenção ao seu papo com
Leon.
- E então? Pode ser um
nome simples, tipo Leaf! – Sugeriu o garoto.
- Leaf é péssimo – riu
Lyra. – Vou pensar em algo.
O jovem deu de ombros.
Agora só conseguia pensar em sua primeira batalha de ginásio. Já imaginava a
Zephyr Badge em suas mãos, já imaginava o prazer de vencer Falkner. E também
não deixava de ficar ansioso para reencontrá-lo.
Além do ginásio e da
Sprout Tower, a cidade também abrigava a Pokémon School, um Centro Pokémon e um
PokéMart. Os jovens esperavam ver vários treinadores iniciantes ali, aguardando
por seu desafio de ginásio, mas a movimentação estava estranha. Poucas pessoas
andavam por ali e de vez em quando alguns homens caminhavam lentamente pela
área, olhando ao redor como se procurassem por algo. Um deles foi em direção à
dupla de treinadores.
- Posso ajudá-los?
- Não, não precisa –
respondeu Lyra. – Só vamos dar uma passada no ginásio.
Nate olhou para a amiga e
percebeu que ela estava meio desconfortável enquanto falava com o cidadão. Por
quê? Era só um cara oferecendo ajuda.
- Oras, eu faço questão
de lhes apresentar os melhores lugares de Violet City – ofereceu-se o homem.
- Obrigada, mas
realmente...
- Valeu moço, adoraríamos
conhecer Violet melhor.
O homem sorriu e se
virou, iniciando o tour pela cidade. Lyra pisou com força no pé do amigo.
- Ai! Mas que droga, pra
quê quebrar meu pé?!
- Eu estou com um péssimo
pressentimento. Como você pode confiar em qualquer estranho? Sua mãe nunca te
ensinou a não falar com estranhos?
- Se eu não falar com
estranhos, eu não vou conhecer ninguém! Vamos lá. É só um pressentimento, não é
como se você pudesse prever o futuro.
Lyra suspirou e, ao lado
de Nate, seguiu o estranho homem, não deixando de pensar no pior.
O cidadão apresentou a
pequena escola. Ele explicou que lá os alunos aprendiam sobre os movimentos dos
Pokémons, as doenças de status, os
tipos, as vantagens e desvantagens, tudo o que eles precisavam saber antes de
começar a jornada. Nate sorriu ao ver
aquelas crianças aprendendo tudo o que Clair o ensinara.
A próxima parada era a
Sprout Tower. O pequeno grupo atravessou a ponte ao norte de Violet para chegar
à torre de três andares. A mesma era cercada pelo verde e pela água, ela se
dedicava à bela natureza dos Bellsprouts e era onde se encontravam vários
sábios que treinavam Bellsprouts, tornando-os Pokémons gentis.
Mas não era bem isso o
que parecia.
Por dentro, o lugar tinha
um cheiro horrível de mofo. Estava terrivelmente escuro. O silêncio era tanto
que deixava os jovens desconfortáveis, aparentemente não havia nenhum treinador
ou Pokémon selvagem por ali.
- Que estranho – comentou
Nate.
- Podemos sair daqui? –
Murmurou Lyra. – Esse lugar é meio incômodo.
O rapaz estava prestes a
pedir ao seu guia que fossem a outro lugar quando alguém o agarrou por trás,
cobrindo sua boca com a mão. Ele olhou para o lado. Lyra também havia sido
pega. Aquela foi a última coisa que ele viu antes de desmaiar.
Ah, como era bom sentir
o ar fresco batendo suavemente em seu rosto, na companhia de Pokémons de seu
tipo favorito, sem ter que se preocupar com problemas ou o estresse do
trabalho! O topo do ginásio era o lugar favorito de Falkner, sem dúvidas. Nenhum
treinador havia o desafiado para uma batalha naquele dia, algo um tanto raro, e
que adorava quando acontecia. Adorava ficar em paz, passar um tempo consigo
mesmo... E com os vários Pidgeys e Spearows também, é claro.
Por algum motivo, a
cidade estava quieta. Algumas crianças aprendiam sobre Pokémon na Pokémon
School, mas poucas pessoas passavam pelas ruas de Violet, apenas alguns homens
que andavam por ali de vez em quando. O líder de ginásio não podia deixar de
estranhar isso.
Enfim ele avistou um
rapaz de boné preto e amarelo. Era ele! Nate Silver, seu afilhado de
consideração. Ele estava acompanhado de uma garota com um grande chapéu branco
na cabeça e um homem de sobretudo preto. O adulto parecia guiar os jovens, o
que aumentava as suspeitas de Falkner. Não havia guias em Violet City.
Eles iam em direção a
Sprout Tower. A torre estava fechada para visitas no momento... Falkner desceu e saiu do ginásio, disposto a
descobrir o que aquele cara queria com seu afilhado e a garota.
- Lyra...?
Ao seu lado, Lyra parecia
inconsciente. Seu chapelão jazia jogado no chão e sua cabeça estava inclinada
para frente. Suas mãos estavam amarradas na cadeira. Nate olhou para baixo e para
trás; ele se encontrava na mesma situação.
Mas por que estavam ali?
Ou melhor, onde eles estavam? Ainda
na Sprout Tower ou em algum outro lugar? A dupla era iluminada uma luz amarelada
que o livrava da escuridão, e seus Pokémons não estavam ali. Nate só podia
rezar para que suas Pokébolas e todos os outros itens ainda estivessem com ele.
- Bom dia, bela
adormecida.
Diante de Nate estava um homem vestindo um
paletó negro sobre uma camisa com estampa de zebra, um par de óculos e
carregava uma arma. Seu cabelo era negro e penteados de maneira estilosa, em
seu rosto estava estampado um sorriso torto. Em um de seus olhos havia uma
cicatriz feia. Havia mais dois homens ali, um de cada lado do homem com a arma,
ambos usavam boinas negras e uniformes da mesma cor com um R vermelho estampado
na blusa.
- Quem é você? – Indagou Nate.
– Onde estamos? Por que estamos aqui? O que você fez com a minha amiga e os
nossos Pokémons?!
- Opa, opa, opa! Tenha
calma, rapaz. Uma pergunta de cada vez! – Exclamou o cara armado. – Pode me
chamar de Spencer, um dos Executivos Rockets. Vocês continuam na Sprout Tower.
A garota só resolveu dormir mais do que você, e seus Pokémons... Eles não estão
numa situação muito conveniente – ele respondeu tudo bem rápido. – Agora! A
pergunta do dia! Vocês estão aqui porque... – Ele deu uma pausa. – Opa! Não
posso responder isso agora, mas quando eu puder, será a pergunta do dia! Ou da
tarde! Ou da noite!
- Cara, você é muito
retardado.
Spencer franziu o cenho.
- Respeite os mais
velhos, moleque. Principalmente aqueles que batalharam bravamente na guerra!
O tal militar começou a
relatar fatos incríveis da guerra, mas Nate pouco se importava. Estava mais
preocupado com sua amiga e seus Pokémons.
- Que se dane! – O rapaz
gritou, cansado de ouvir aquele cara se vangloriando. – Nos solte agora e
liberte nossos Pokémons!
Spencer o encarou por um
momento antes de colocar encostar a arma em sua testa.
- Eu não gosto de
moleques mal educados.
Ele pôs o dedo no gatilho.
Um Growlithe abocanhou
seu braço. Spencer gritou de dor e virou a arma, atirando contra a parede. Os
outros soldados liberaram Golbats, um deles avançou contra o Growlithe enquanto
o outro procurava outros possíveis invasores.
O Pokémon de fogo
nocauteou seu oponente em pouco tempo, partindo pra cima do Executivo logo em
seguida. Ele mordeu sua mão, causando mais um grito do homem. Da escuridão
surgiu um Meowth pronto para cravar suas garras nas costas do Rocket. Spencer
se afastou enquanto tentava tirar o Pokémon de suas costas. Growlithe correu até
Nate para desatar o nó da corda com a boca. Logo em seguida, um Crobat caiu no
chão.
Após libertar o rapaz,
Growlithe correu para socorrer Lyra. Nate a pegou no colo assim que a amiga foi
solta.
Um Totodile apareceu do
nada e atacou os dois soldados restantes, novamente desaparecendo na escuridão
com eles. Seja lá quem estivesse por trás daquilo, Nate estava agradecido.
Minutos depois, surgiu um
rapaz acompanhado do Totodile e do Meowth. Era ruivo, o cabelo batia mais ou
menos na metade do pescoço, repicado nas pontas, olhos vermelhos. Usava uma
jaqueta azul escura fechada com detalhes vermelhos e uma calça lilás. Ele
carregava sua mochila e a bolsa de Lyra, e entregou-as à Nate.
- Nate Silver?
Nate assentiu.
- Você por acaso possui
algum item raro? Como o Clear Bell?
- Na verdade, quem tem
isso é ela – Nate apontou para Lyra. – Eu tenho a Silver Wing;
O ruivo arqueou as
sobrancelhas, surpreso. Em seguida, tirou do bolso uma caixinha de vidro com
uma pequena almofada vermelha dentro, sobre a almofada estava uma pena
colorida.
- Eu sou, assim como
você, um dos Guardiões das Asas, guardião da Rainbow Wing.
Antes que Nate pudesse
fazer qualquer pergunta sobre isso, viu seus Pokémons e os de Lyra correndo até
eles. Leon pulou em seu ombro, Ícaro pousou em sua cabeça e o Geodude lhe deu
um tapinha nas costas que quase o levou ao chão. O Chikorita e a Ledyba
cercaram sua treinadora, preocupados, e só então Nate deu falta do Magikarp da
amiga. A deitou no chão delicadamente e abriu sua bolsa a procura das
Pokébolas. De uma delas saiu o peixe, e o rapaz tratou de retorná-lo à cápsula.
- Quem é você e por que
nos salvou?
- Não temos muito tempo
para apresentações. Precisamos dar o fora antes que os reforços deles cheguem –
explicou o ruivo. – Quanto a sua outra pergunta... Nós explicamos depois.
- “Nós” quem?!
Ele abriu um meio
sorriso.
- É uma história engraçada.
Você vai gostar, ou vai me socar. Mas o importante agora é fugirmos antes que
Spencer volte acompanhado de outros soldados.
Não demorou muito para
isso acontecer. Enquanto os dois corriam em direção à saída, Spencer
reapareceu, com um ferimento na mão e o paletó rasgado nas costas. Estava
acompanhado de três soldados Rockets, cada um com um Golbat, enquanto Spencer
tinha em mãos um Ultra Ball.
- Olá, moleques mal
criados.
Nate ajeitou Lyra em suas
costas e tanto seus Pokémons quanto os da garota se colocaram em posição de
combate. Os do ruivo fizeram o mesmo. Mas antes que qualquer um pudesse atacar,
um grande e bravio Pidgeot atacou os três soldados com um Wing Attack, um de
cada vez. Por sua vez, Spencer foi atacado por um cara de cabelos azulados, que
iniciou uma luta corpo-a-corpo com o Executivo.
- Falkner!
- Olá, Nate, como vai?
Não muito bem, eu imagino – disse o líder de ginásio. – Fuja, garoto! Deixe ele
comigo!
Relutante, Nate saiu da
torre ao lado do de olhos vermelhos.
Ok, vamos parar por um
minuto, pensou o rapaz. Por que a Cris está aqui?
Assim que o viu, sua
prima de cabelos e olhos azulados abriu um enorme sorriso. Lyra finalmente
acordou e olhou ao seu redor, atordoada.
- O... O que aconteceu? E
o que a Cris está fazendo aqui?
Nate lhe contou tudo o
que acontecera na Sprout Tower enquanto ela estava inconsciente. Os quatro
jovens descansavam sob a sombra de uma árvore em Violet, escondidos dos outros
Rockets. Hesitavam em tentar sair da cidade pois poderiam ser pegos. Assim, a
melhor alternativa era ficar escondidos até Falkner sair da torre com, eles
esperavam, boas notícias.
- PRIMO!!
Cris se jogou em cima do
rapaz assim que Lyra sentou-se no chão.
- E aí prima, além de
doida é sumida, né? Deu pra desaparecer agora?
- Ah! Sobre isso... É uma
longa história, eu acho. É bem engraçada!
Nate olhou para o ruivo. “Você
vai gostar, ou vai me socar”, ele dissera. Aquilo não o deixou muito ansioso
para ouvir a história.
- Parece que ainda não
nos apresentamos – lembrou o ruivo. – Meu nome é Duke. Duke Skyfalls.
- Duke? – Riu Nate. –
Parece nome de cachorro.
Lyra lançou-lhe um olhar sério,
mas também parecia se segurar para não rir.
- Foi o que eu disse
quando o conheci! – Contou Cris.
Os três riram do nome e
da cara de poucos amigos de Duke. O ruivo estendeu a mão num sinal de “pare”.
- Nate Silver e... – Ele olhou
para Lyra, que se apresentou. – Lyra Waterflowers. Precisamos tratar de um
assunto um tanto complicado.
- Sim. – Cris deixou a
brincadeira de lado para assumir uma feição séria. – Algo que envolve o mundo
inteiro e esses artefatos que vocês carregam.
Nate e Lyra ficaram
quietos para prestar atenção na história. Duke suspirou e, antes de começar a
contar, olhou para o céu e comentou:
- A tempestade está
chegando.
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