quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Especial de Natal - Revelações (Parte 2)

   - Seu sobrenome é Silver? - Indagou Hugh.
   - Sim - confirmou Nate. - Por quê?
   - O meu também é Silver.
   Todos aqueles ali presentes ficaram em silêncio por um instante. A mãe de Hugh colocou a mão na testa.
   - Que coincidência - disse o jovem de Johto. - Quais as chances de duas pessoas desconhecidas e sem laços de sangue terem o mesmo sobrenome?
   - Pois é. É praticamente impossível - afirmou o treinador de Unova.
   Eles se calaram novamente. Nate deu outra garfada em sua comida.
   - Então... Silver é o sobrenome de sua mãe? - Perguntou ele.
   - Não, de meu pai.
   O rapaz de boné engoliu sua comida imediatamente e voltou a encarar Hugh.
   - O do meu pai também é Silver.
   Outra vez, silêncio. 
   - Você parece um pouco com meu pai - observou Nate.
   - Você também parece com o meu - disse Hugh.
   Os dois se calaram novamente. A mãe de Hugh tinha o olhar baixo e as mãos na cabeça, sem falar nada.
   - Qual o nome do seu pai? - Perguntaram ao mesmo tempo. - Patrick - responderam. - Ele morreu - disseram em uníssono mais uma vez.
   - Ei! Para de falar ao mesmo tempo que eu! - Reclamou Nate.
   - Não é possível que sejam a mesma pessoa... - Disse Hugh, antes de olhar para sua mãe. - Mãe...?
   Relutante, a mulher ergueu o olhar para encarar o filho. Tinha os olhos marejados e uma expressão de tristeza misturada a um mal estar. Hugh nunca a tinha visto daquele jeito, e aquela feição lembrava Nate do dia em que se despediu de sua mão para morar com Clair.
   - Desculpe nunca ter te contado isso, meu filho. Nate é... Seu irmão.
   Hugh a encarou espantado. Por sua vez, Nate se levantou num pulo.
   - O quê?!?! Esse cara é meu irmão?!?!
   - Pare de gritar, fedelho! Não percebe que isso é sério? 
   - Tá muito na cara que é sério! Até uns minutos atrás eu era filho único!
   - Você nunca foi filho único, Nate - corrigiu-o a dona da casa. - Sempre teve um irmão mais velho.... Você nasceu quando Hugh tinha 6 anos. Acredito que tenha 9 agora, certo?
   - S-sim... 
   - Eu já tenho 15 anos e nunca soube que tenho um irmão mais novo? - Indignou-se Hugh.
   - Seu pai e eu decidimos não contar. Você o amava tanto, não queríamos que se sentisse traído. O mesmo vale para você, Nate...
   - Então todas aquelas viagens para Unova... 
   - E todas aqueles viagens para Johto...
   Os irmãos se encararam. Não dava pra acreditar que cada um tinha um irmão vivendo em outra região, muito menos que o pai deles resolveu não contar nada para não decepcioná-los. Seria um choque, mas pelo menos poderiam ter vivido como uma família. Agora lá estavam eles, na casa de Hugh, mal acreditando que eram irmãos que não conheciam um ao outro e já tão perto do Natal. Tudo era tão estranho, seus estômagos ficaram embrulhados como se tivessem tentado ingerir uma mudança drástica em suas vidas - e não conseguiram.
   - Meu pai te traiu com outra? - Perguntou Hugh.
   - Já tínhamos nos separado, mas como vocês eram crianças, ficamos com medo que invertessem as coisas.
   - Minha mãe sabia? - Indagou Nate.
   - Isso você tem que perguntar para ela, Nate. Nunca soube se ela sabia disso ou não, seu pai nunca me disse e eu nunca quis saber. 
   Todos ficaram quietos pela trigésima vez naquele dia, até que Nate se levantou e agradeceu pelo almoço. 
    - Muito obrigado pela refeição, senhora, mas eu já estou voltando para o hotel. Foi um prazer... Eu acho.
   Ninguém tentou impedi-lo de sair.

   No hotel, Nate tomou uma rápida ducha para clarear os pensamentos. Se vestiu e desceu para usar o telefone do prédio. Ligou para sua mãe e não precisou esperar muito para que ela atendesse.
   - Alô?
   - Oi, mãe. Sou eu, Nate.
   - Olá, Nate! Já chegou em Unova?
   - Já. É bem legal aqui.
   - Que bom que está gostando. Como foi a viagem?
   - Ótima, sem nenhum problema. Fique tranquila. - Nate respirou fundo. - Mãe, posso te fazer uma pergunta?
    - Claro, filho.
    Por um momento, Nate pensou em deixar pra lá. Mas sua curiosidade estava o matando.
    - Você sabia que o papai tinha outro filho?
    Silêncio se fez no outro lado da linha. Era um dia muito silencioso, na verdade. 
    - Encontrou Hugh?
    - Você sabia?! Por que nunca me disse nada?!
    - Achamos que seria melhor assim. Nós não queríamos...
    -... Que eu me decepcionasse com o papai, não é? - Completou o rapaz. - Mãe, ele era meu herói. Eu acreditava em tudo o que ele dizia. Se me explicassem, eu entenderia...
    - Nós iríamos contar Nate, acredite. Queríamos esperar você crescer mais um pouco para que pudesse realmente entender. Mas ele faleceu quando você ainda era pequeno...
    - E eu cresci, e continuei sem saber de nada - murmurou o garoto. - Feliz natal, mãe.
   Como ela não respondeu, Nate desligou o telefone, e se sentiu péssimo por ter dito aquilo.
   - É assim que você fala com sua mãe?
   Nate se virou. Hugh estava parado logo atrás dele, quase o matando de susto.
   - Normalmente não... Fui muito idiota, eu sei. - Então ele finalmente se tocou. - Pera, como você me achou?
   - Esse é o único hotel da cidade. Minha mãe mandou eu cumprir meu papel de irmão mais velho e ver como você estava. Sinceramente, é ridículo pensar que vou te tratar como um irmão agora.
   - É claro. Teríamos que nos conhecer primeiro, não dá pra agirmos como irmãos como se tivéssemos convivido juntos desde sempre.
   - Tsc... Você acha mesmo que vou deixar que você se meta na minha vida?
   - O... O quê?
   - Você ouviu bem. Não fique achando que vamos ser irmãos, que vamos nos ligar, mandar cartas, presentes, e agir como uma família. Pra mim você é só um estranho.
   Nate franziu o cenho.
   - Tá de sacanagem que você é meu irmão...
   - Exatamente. Eu não sou, não pretendo ser, e quero esquecer que esse dia existiu.
   Hugh se direcionou para a saída. Nate poderia tê-lo deixado ir e esquecer aquilo também, mas por algum motivo correu atrás do rapaz.
   - Hugh, você é um idiota!
   Já do lado de fora do hotel, todos que passavam por ali prestaram atenção nos dois jovens. Hugh parou de andar e se virou para Nate que o encarava furioso.
   - Querendo ou não, nós somos irmãos! Eu também não tô aceitando isso, mas não dá pra simplesmente ignorar para sempre! Não dá pra voltar pra casa pensando que é filho único sabendo que não é! Mas com você agindo dessa forma, fica muito claro que nossas mães são muito diferentes... Ou que nosso pai me educou melhor.
   Agora Hugh parecia realmente com raiva. Se aproximou de Nate e o levantou pela gola de sua jaqueta.
   - Como é, pirralho?
   - Você ouviu muito bem.
   Hugh o socou, derrubando o rapaz no chão.
   - Ele não teve tempo. Estava muito ocupado cuidando de seu outro filho.
   Estava claro que ele não disse aquilo com rancor. Ele parecia triste, sua voz estava amargurada. Nate percebeu isso, e enquanto alguns adolescentes começavam a clamar por uma briga, o rapaz se levantou e abriu um meio sorriso.
   - Não foi tão bom assim receber mais atenção.
   - Está dizendo que não gostou de ser o centro das atenções do nosso pai?
   - Claro que gostei, mas por causa disso, eu vi ele morrendo. E gostaria de ter perdido isso.
   Hugh virou o olhar. Seu irmão tocou seu ombro.
   - Viu só? Você admitiu que ele é nosso pai. Quase como se aceitasse que somos irmãos. - Ele um riu de leve. - Feliz natal, Hugh.
   Nate se virou para voltar ao hotel. O mais velho abriu um sorriso discreto e murmurou:
   - Feliz natal, maninho.
   E então, quando cada um ia para seu lado e a multidão de curiosos se dissipava, um som agudo foi ouvido. Logo depois um grande Scolipede apareceu na cidade, correndo enlouquecidamente.
   Nate engoliu em seco e tremeu.
   - I-inseto...
   - Tepig, vamos pará-lo - disse Hugh, liberando seu Pokémon.
   O Scolipede continuou avançando. Hugh e Tepig avançaram para enfrentá-lo, e mesmo com medo, Nate lhe dava todo o apoio moral que podia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário