sábado, 11 de janeiro de 2014

Capítulo 10 - Superação


   Numa sala isolada da base principal da Team Rocket, havia uma jaula com um Pokémon raro dentro. Ali era onde Axel passava a maior parte do tempo. Por sorte fora escolhido para vigiar o Pokémon. Enquanto todos achavam isso uma tarefa chata e um pouco perigoso, Axel a via como um passatempo agradável. Ele adorava estar ali com o Lendário, e seria ainda melhor se estivessem livres.
   Como nos velhos tempos...
   Infelizmente, a fera o via como um inimigo. E ninguém podia culpá-lo. Axel havia traído seu melhor amigo. O rapaz sabia o quanto aquilo fora imperdoável.
   - E aí, grandão? Vou ficar um tempo aqui com você, beleza?
   O Pokémon rugiu.
   - Eu sei que você não vai aceitar, mas... Desculpe. Mais uma vez, desculpe por tudo.
   Axel sentou-se encostado à parede. Apenas fixou a outra parede, se lamentando pelo que tinha feito e pelo que tinha passado.  
   Um soldado entrou na sala.
   - Senhor Axel, o senhor Archer o espera na sala de reunião.
   - Archer, é...? Tudo bem, estou indo.
   - Eu fico de olho na fera durante sua ausência, senhor.
   O Executivo hesitou. Olhou para o Pokémon e, relutante, respondeu:
   - Como quiser. Eu já volto.
   A sala de reuniões era composta por uma grande mesa reservada aos Executivos e aos líderes do quartel de Kanto. A sala era iluminada por três lâmpadas, já que a luz do sol matutino não podia entrar na base subterrânea. Apenas Archer estava lá quando Axel chegou, e aparentemente a reunião seria apenas com eles.
   - Bom dia, Axel.
   - Bom dia, chefe.
   O jovem se sentou.
   - Fui o primeiro a chegar?
   - Oh, não. Quero falar apenas com você -esclareceu Archer.
    Aquilo não soava bem. Axel não tinha medo de Archer, apenas fingia respeitá-lo. Ainda assim, ter uma conversa às sós com ele não parecia bom, ou seguro. Por trás do sorriso amistoso do homem estava uma camada de crueldade. Axel descobrira isso da pior maneira possível.
    Ele lhe explicou a situação.
    Era uma ordem absurda. Axel não queria fazer aquilo.
    Mas não tinha outra alternativa.

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   Sentados no meio da Rota 32, os quatro escolhidos haviam feito uma pausa na caminhada. Lyra liberou sua Ledyba para ajudar o amigo a se preparar para o próximo ginásio, no qual o líder era especialista em tipo Inseto. Era a segunda vez que Nate precisava de ajuda para passar de um desafio, e ele realmente não queria ter de passar por isso sempre que se aproximasse de um ginásio. Seus amigos eram muito prestativos e gostavam de ajudar, mas o rapaz gostaria de se preparar sozinho na próxima vez. Queria passar aos seus Pokémons o ensinamentos de Clair.
   Ao ser liberada, Starx começou a subir no colo de Nate, enquanto o garoto fazia o possível para não tirá-la dali. A Ledyba então subiu até seu ombro e parou em cima de sua cabeça. Ela ficou ali por dois minutos de silêncio.
   - Muito bem, garota. - Lyra a pegou no colo e Nate soltou um suspiro de alívio. - Foi tão ruim assim?
   - Ela é um inseto! 
   - Ela não fez absolutamente nada - disse Duke. - Só ficou parada em cima da sua cabeça. Isso é paranoia...
    - Vamos Nate, aquilo foi só uma brincadeira... Não acredito que você ainda tem tanto trauma - disse Cris.
    Ele também não acreditava. Seu trauma nasceu de uma brincadeira de Lyra quando eles eram pequenos, embora a garota não tivesse feito por mal. Agora que isso realmente atrapalhava, sua amiga parecia querer fazer o possível para acabar com esse medo para que o rapaz não tivesse problemas em Azalea. Isso era realmente muito legal da parte dela. Lyra se importava muito com o amigo, e Nate sentia que não retribuía da mesma forma. Agora ele estava determinado a dar mais importância à amiga de infância - principalmente depois do pensamento da noite anterior.
   - De qualquer forma, obrigado, Lyra. É muito legal da sua parte. 
   A garota sorriu. 
   - De nada. Mas isso foi só um aquecimento.
   - Hein? Como assim?
   Lyra se levantou.
   - Vou te apresentar à uma pessoa.

   A garota de chapéu branco os guiou até uma pequena casa perto da entrada da Union Cave. Ela apertou a campainha e um jovem de cabelos cinzentos com topete atendeu. Sua pele era bem clara e vestia uma jaqueta preta sobre uma camisa branca com uma estampa na parte inferior, calça e tênis cinzas.


   - Olha só, se não é minha guria favorita! Há quantos anos a gente não se vê, Lili?
   - Só faz um mês, Duncan.
   Duncan riu e olhou para os outros jovens.
   - Ah... Pessoal, esse é Duncan Curtis. Duncan, esses são meus amigos: Nate Silver, Duke Skyfalls e Cristina Houston.
   - Opa! Prazer, galera.
   O amigo de Lyra apertou a mão de cada um amistosamente.
   - O pai do Duncan é amigo do meu pai, além de trabalhar com ele. Por isso nós sempre passávamos um bom tempo juntos quando eles se encontravam.
   - Apesar de eu ser seis anos mais velho, era bem divertido - admitiu Duncan. - Entrem! Só não liguem pra bagunça, quando a Lyra ligou perguntando se podia fazer uma visita, eu corri pra arrumar... Mas essa guria é muito rápida!
   - Não. Você que é muito bagunceiro.
   - E ainda joga na cara... Entra logo, chata. 
   A casa tinha um estilo rústico e era mesmo muito bonita, embora estivesse um pouco bagunçada. Na sala de estar, um sofá para três pessoas e uma poltrona, uma televisão e uma mesa de centro sobre o tapete. Na sala ao lado, uma escada levando ao segundo andar, uma grande estante lotada de vários tipos de livros e duas mesas de estudos. Por fim, a cozinha, que também servia como sala de jantar.
   - Ok, mas... Lyra, por que nós estamos aqui? - Perguntou Nate.
   - O senhor Curtis é um grande admirador do tipo inseto. 
   - É verdade - disse o mais velho. - Temos um cercado com vários Pokémons desse tipo lá fora. Quer ver?
   - N-não, não precisa...
   - Ele adoraria - cortou Lyra.
   Duncan os levou até a cozinha e abriu a porta dos fundos. Lá estava um extenso cercado com vários Pokémon do tipo inseto existentes em Johto: Caterpies, Buterfrees, Weedles, Beedrils, Spinaraks... A quantidade era inacreditável. Os voadores voavam livremente pela área, mas sempre voltavam para casa. Os menores passavam por debaixo da cerca para passear um pouco, sendo vigiados pelos maiores. Era como uma grande comunidade de insetos. Uma comunidade bem arrepiante.
   - Incrível! - Admirou-se Cris. - É uma coleção surpreendente!
   - Eu fico de boca aberta vendo o apreço que meu pai tem por eles. Antes eu não gostava desse tipo, mas com a convivência fui me acostumando, e agora chega a ser um dos meus preferidos. 
   - O senhor Curtis deve ser um homem bem esforçado para reunir tantos no mesmo lugar - observou Duke.
   - Sim, e também é uma pessoa sonhadora, desde sempre. Papai tem vários sonhos e luta para realizar cada um deles.
   - É admirável - disse Nate. - Muito legal. Demais! Podemos ir agora?
   - Cara, isso é falta de educação - repreendeu-o o ruivo.
   - Hum... Você é o cara que tem fobia de insetos! - Adivinhou Duncan. - A Lyra me falou de você. Sei exatamente como te ajudar.
   - Sério? Como?
   - Fique aqui no cercado por algumas horas e está resolvido.
   Nate arregalou os olhos.
   - Tá de sacanagem, né?
   - Mano, fique aqui por umas horas e perderá completamente o medo! É muito ridículo esse trauma. Só precisa de convivência pra perceber que eles são incríveis.
   - Eu já convivo com um! A Lyra tem uma Ledyba e eu vejo ela todos os dias!
   - Mas é só uma. Você tem que conviver com vários para se acostumar.
   - E nós vamos ficar aqui com você. Então pare de chorar, ouviu? Parece um bebezão! - Disse Cris.
   - Pode contar com a gente. Desde que você não berre de medo... - Disse Duke.
   - Eu também vou ficar - disse Lyra. - Vou aproveitar para deixar a Starx brincando com os outros Ledybas daqui.
    Nate abriu um sorriso enorme.
    - Ok, ok! Vamos nessa...

   Enquanto as garotas conversavam de um lado, os rapazes passavam o tempo no outro. Starx passeava pela área brincando com os menores, como Spinaraks e Paras, além de outros Ledybas. Os adultos iam cumprimentar a visitante de vez em quando. Duncan às vezes ia ver como eles estavam levando comida ou simplesmente passando um tempo com eles.
   - A Cris me contou como vocês se conheceram - Nate resolveu puxar assunto com Duke. - Aquilo é típico dela.
   - Acho que é a mesma coisa com os insetos, no seu caso. Só precisa conviver com eles pra acostumar. Eu não fui com a cara da Cris de primeira, mas depois um tempo, viramos amigos. 
   - É, eu também não gostava muito da Lyra.
   Isso foi uma surpresa. Duke arqueou as sobrancelhas.
   - Não consigo imaginar isso.
   - Por que não?
   - Porque vocês são muito próximos! Poucas amizades sobreviveriam a anos de separação. E além disso... Eu sei que você gosta dela.
   - É claro que gosto. Lyra é minha melhor amiga.
   - Não, mané. Gostar daquele jeito.
   Duke esperava que Nate ficasse vermelha e gaguejasse qualquer coisa sobre não gostar dela desse jeito, mas ele ficou quieto. Na verdade, ele parecia triste.
   - Eu só sei que não quero perdê-la. Eu temo não conseguir salvar o mundo e sobreviver ao caos só para vê-la morrendo.
   Duke o encarou com uma mistura de pena e compreensão. Ele devia saber de alguma coisa. Ainda não tinha explicado como sabia o que aconteceria no futuro - ou o que estava acontecendo no presente, vai saber. Porém, Nate não queria esquentar a cabeça com isso. Estava preocupado demais com tudo. Não era fácil continuar sua jornada normalmente sabendo que o mundo dependia dele.
   - Você entendeu errado.
   A frase de Duke deixou Nate confuso.
   - Você não é único que pode salvar o mundo. Nós também estamos nessa. Eu, Cris, Lyra... Estamos todos juntos. Então pare de falar como se estivesse sozinho nisso.
   - Duke...
   - Aposto que você já se esqueceu dos insetos, né?
   Enfim Nate percebeu que um Spinarak subia em seu colo. E ele não se incomodou muito.
   - Faz cócegas.
   Logo depois um Ledian voou em volta dele, como se quisesse conhecer o convidado. Ele era bem legal, parando pra pensar. Sua cabeça parecia um capacete. Yanma e Venonat eram até fofos. Scyter, Heracross e Pinsir aparentavam ser poderosos. Shuckle era um pouco engraçado. Nate não precisava temê-los. Eram todos muito legais, de sua própria maneira.
   - Acho que eu consegui.
   - Vamos continuar aqui, só pra ter certeza.
   - Claro.

   - Então Lyra, como vai seu pai?
   Duncan foi para o cercado mais uma vez para falar com a amiga, visto que ela tinha acabado de terminar o assunto com Cris.
   - Não sei. Ele está numa viagem de negócios.
   - Ele sabe que você está nessa jornada? - Perguntou a azulada.
   - Sabe, claro. Eu liguei pra ele avisando... E ele disse que foi besteira. Que eu não devia ter feito isso, que ainda era muito jovem pra viajar por aí, que foi uma decisão tola...
   O rapaz não sabia o que dizer. Sempre que recebeu visitas ou visitou  a família de Lyra, seu pai lhe parecia um homem gentil e honesto. Contudo, a garota não parecia vê-lo somente assim. Cris tomou a iniciativa de abraçá-la.
   - Ele não me dá força pra nada. Ele nunca me incentiva. Sinto falta da mamãe.
   Era verdade. Os pais de Lyra se divorciaram quando ela tinha sete anos, e seu pai conseguiu sua guarda. Lyra amava muito sua mãe. Nunca quis saber o motivo da separação do casal pois não queria destruir a imagem que tinha de sua progenitora. Temia ficar tão abalada com a verdade a ponto de não querer vê-la novamente, embora só tenha a visto poucas vezes desde sua partida.
   - Sinto muito, eu não devia ter perguntado...
   - Tudo bem, Duncan. Você não sabia, certo? Além do mais, eu tenho que superar isso. Minha mãe partiu há dois anos e eu ajo como uma criança quando meu pai fala algo ruim dela.
    - Não faz mal agir como uma criança de vez em quando.
    Nate estava atrás dela, sorrindo, e com... Starx no colo?
    - Na verdade, nós somos crianças! E é isso o que torna tudo divertido!
    - É... Acho que você tem razão.
    Cris sorriu e apontou para a Ledyba.
    - Sem medo, primo?
    - Sem medo, prima! O Duncan tinha razão: era só questão de convivência.
    Era ótimo que Nate tivesse perdido seu medo. Agora tinha mais chances na batalha contra Bugsy. Agora ele poderia seguir a jornada sem a preocupação de batalhar com esse tipo de Pokémon. Lyra também devia superar o medo de escuro e de Gastlys - resultado de outra brincadeira. Cris e Duke também tinham algo a superar.
    Todos tinham medos e aflições a superar.

Um comentário:

  1. Isa-chan, gostei desse capítulo de superação, afinal todos temos coisas a superar.
    Lyra teve uma ideia muito boa mesmo para ajudar o Nate.
    Duncan me parece legal, e espero que continue assim!
    Duke notou algo que eu já havia notado: Nate deve gostar da Lyra, daquele jeito.
    O que será que a Cris e a Lyra conversaram?
    Quero saber qual lendário está preso, e pelo que eu entendi, ele confiava no Axel, e o que o Proton quer com ele?
    Até a próxima Isa-chan!

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